3.3.09

A odisséia de Drummond


O amor, apesar de ser individualizado no conto, é um substantivo que representa algo que é de conhecimento comum e com ele convivem seres indefinidos representados por "quem", sujeito indeterminado (cercaram/arrancaram-lhe), "todos", "ninguém". Isso traz uma generalização, cujo efeito é fazer com que o leitor se veja como parte desse todo.
Não deixei de pensar nos deuses gregos, que representavam elementos da trajetória humana no mundo, como Eros, Artemis, Apolo.
Entre os elementos coesivos, o autor usa "e" e vírgulas, criando um ritmo ágil, que lembra a fala.
O conto lembra também textos religiosos, como a parábola, em que há um caráter educativo na narrativa. E menciona o texto bíblico que diz que Jesus ressuscitou no terceiro dia.
Há neste conto estruturas estabelecidas e um tema corrente na literatura [amor] misturados a fatos contemporâneos - a tentativa de eliminá-lo pela violência, com métodos usados durante a ditadura militar. É interessante a menção ao lugar escolhido para isolá-lo - além da memória, considerando que as narrativas orais às quais o texto se liga são transmitidas/herdadas graças à memorização.
O amor permaneceu vivo na memória, pelo fato de todos falarem nele, de ele ser um desejo compartilhado. Talvez tenha havido no momento em que o conto foi produzido falta de espaço para o amor realizar-se materialmente, apenas no imaginário, nas rimas, nos sonhos ele poderia existir. O amor era um porvir.

Um comentário:

Maria José Nóbrega disse...

Isabel,
gostei de ler suas análises dos poemas.
Beijos,
Mazé