26.5.09

Comentário 2 sobre Foucault

Hoje eu ia fazer um comentário e perguntas sobre o texto na aula, mas acabei recuando. Fiquei no movimento pendular entre o incentivo ao comentário no site e a declaração da prof. Márcia de que ela não se aventurava a criticá-lo. Mas lá vai, se não for pertinente, pelo menos estou tentando.
Na conferência, Foucault considera apenas os textos científicos e literários como textos que têm autor. Os discursos cotidianos não estariam nesse grupo. Fiquei pensando em como os posicionamentos valorativos estão presentes em todos os tipos de discurso e como determinam as escolhas linguisticas que configuram um estilo do autor. Não ficou clara para mim a separação que Foucault menciona entre textos que têm autor e textos que não têm autor.
Outro ponto que suscitou dúvida foi a ausência do leitor de sua linha de pensamento. Alguém achou alguma referência a isso no texto dele?
Será que a noção de transdiscursividade que Foucault aponta tem alguma intersecção com a de dialogia de Bakhtin? Separei estas duas citações para poder pensar sobre isso:
"Ora, é fácil ver que, na ordem do discurso, pode-se ser o autor de bem mais que um livro - de uma teoria, de uma tradição, de uma disciplina dentro das quais outros livros, e outros autores poderão, por sua vez, se colocar. Eu diria, finalmente, que esses autores se encontram em uma posição 'transdiscursiva'" (FOUCAULT, 2006, p. 280).
"[...] a situação transdiscursiva na qual se encontram autores como Platão e Aristóteles a partir do momento em que eles começaram a escrever até a Renascença deve poder ser analisada; a maneira como eles eram citados, como se referia a eles, como eram interpretados, como se restaurava a autenticidade de seus textos etc., tudo isso obedece certamente a um sistema de funcionamento. [...] seria preciso descrever o que é essa transdiscursividade moderna, em oposição à transdiscursividade antiga" (FOUCAULT, 2006, p. 295).

2 comentários:

Márcia Fortunato disse...

Bel, que oportuno seu comentário! Acho-o perfeitamente pertinente. Desculpe se passei uma imagem de reverência. Esforçava-me por dizer do cuidado que devemos ter ao questionar um autor com obra tão extensa e pensamento complexo quando não se tem intimidade com suas referências. Porém, acho que o tema do autor não foi realmente explorado e analisado por Foucault mais profundamente e muitas questões ficam pendentes porque ele não as tratou mais extensivamente. Na impossibilidade de tratá-las no contexto de sua obra, acho preferível admitir que ele não as tratou ou não elucidou do que tentar dar uma versão que pode não encontrar correlações em seu pensamento. É apenas um cuidado para não atribuir-lhe conceitos que não formulou. Era o que tentava dizer e, certamente, não o disse bem. Entretanto, acho importante discutir e questionar, claro. Nós podemos formular nossas críticas ou nossas análises fundamentadas justamente na ausência de um tratamento mais sistemático de certas questões. Mas serão nossas posições a partir do que pudemos compreender. Acho que é bom assim, não?
Quanto às questões que você coloca, são ótimas. Gostaria de abordá-las na próxima aula, coletivamente, o que você acha? Cite o trecho em que aparece o termo "transdiscursividade", pois vou sugerir aos colegas que leiam sua postagem para refletir até a próxima aula.
Beijos, Márcia.

Isabel Fernandes disse...

Entendo seu ponto de vista, Márcia, você tem toda razão. Mesmo não tendo continuidade nas suas análises sobre o autor, Foucault apresenta idéias bastante interessantes. Havia lido a "História da Loucura" muitos anos atrás e achado superárido. Dessa vez, com sua intermediação, está sendo mais acessível. É bom conhecer o pensamento de um filósofo a respeito da linguagem, ele argumenta com elementos de áreas diferentes e amplia nossa visão. Estou gostando de fazer parelelos entre pensadores, não é um exercício fácil, mas abre caminhos novos.