25.5.09

Bakhtin por Carlos Faraco

As reflexões sobre autor e autoria de Bakhtin foram organizadas por Carlos Alberto Faraco nos seguintes pontos:
• oposição entre autor-pessoa e autor-criador: Bakhtin distingue o autor-pessoa do autor-criador, elemento pertencente à obra, que estabelece um posicionamento valorativo em relação aos personagens. "Bakhtin caracteriza o autor-criador como a voz social que dá unidade ao todo artístico" (FARACO, 2005, p. 41).
• a noção de valor: "a grande força que move o universo das práticas culturais são precisamente as posições socioavaliativas postas numa dinâmica de múltiplas interrelações responsivas" (FARACO, 2005, p.38). Os valores da realidade são transpostos para o plano de valores estabelecido na obra; certos aspectos da realidade são focalizados e reorganizados pelo autor-criador, que estabelece uma nova unidade de valores.
• o duplo movimento de reflexão e refração da realidade na obra, que se caracteriza como um "deslocamento no plano da linguagem" (FARACO, 2005, p. 40), entendida como o conjunto heterogêneo dos discursos, em que o autor-pessoa "direciona todas as palavras para vozes alheias e entrega a construção do todo artístico a uma certa voz" [o autor-criador] (FARACO, 2005, p.40).

Bakhtin chama esse deslocamento necessário de princípio da exterioridade - o olhar de fora exige que o autor-pessoa saia de sua linguagem ao mesmo tempo em que recria outra linguagem para representar o mundo.

Na menção à autobiografia como um discurso em que o autor-pessoa precisa determinar uma posição de valoração em relação à própria vida, a comparação com a autocontemplação no espelho é bastante esclarecedora. Ele cita que, para Bakhtin, o que fazemos em frente ao espelho "é nos projetarmos num possível outro peculiarmente indeterminado" (FARACO, 2005, p. 43). Bakhtin destaca a complexidade da autocontemplação, na qual não há fusão do olhar exterior com o interior: vê-se a si mesmo com os olhos do mundo – está-se "possuído pelo outro" (FARACO, 2005, p. 43). A essa noção contribui o conceito de alteridade pelo qual, de acordo com Bakhtin, deve-se passar pela consciência do outro para se constituir.

Um comentário:

Márcia Fortunato disse...

Bel, seu comentário está perfeito, no sentido de que você aborda com bastante propriedade o texto de Faraco. Essa sua aplicação no entendimento do texto lido é formidável. Acho que você está bem instrumentalizada para expandir essas reflexões e conectar o lido com seu conhecimento anterior sobre o assunto, com outros textos, outros autores, observações realizadas etc. Enfim, correlacionar conceitos e dados. O que você acha?
Beijos, Márcia.