25.5.09

Comentário sobre Foucault - O que é um Autor?


Foucault apresenta considerações sobre a noção de autor a partir da relação texto–autor. Ao definir a escrita, nos diz que ela é vista [naquele momento] como um "jogo de signos comandado menos por seu conteúdo significado do que pela própria natureza significante" (FOUCAULT, 2006, p.268), cuja regularidade está constantemente sendo transgredida, nesse espaço onde o sujeito que escreve desaparece. A diluição do papel autor na escrita, defende Foucault, parece ser uma regra que jamais é aplicada de fato, uma regra que coordena a prática, mas não transparece no resultado.
O filósofo francês menciona duas noções que põem em dúvida essa nova definição do papel do autor: a noção de obra e a noção de escrita. Assinala a dificuldade de definir o que seria obra independentemente da noção de autor e afirma que a noção de escrita ainda preserva a noção de autor. A necessidade de analisar as características gerais dos textos não estaria criando um "anonimato transcendental"?, pergunta-se Foucault (2006, p.270). Essa "neutralização", segundo ele, forjaria ela própria uma representação da figura do autor, caberia descobrir o espaço vazio abandonado pelo autor.
Foucault chama a atenção para o fato de o nome do autor ultrapassar seu significado como elemento textual. Seu papel vai além: possibilita que o texto seja identificado com outros textos do mesmo autor e de outros autores. O que ele chama de "função autor" dá ao texto um caráter que o distingue dos discursos cotidianos – uma configuração, uma circulação e um funcionamento próprios.
Os textos de autor têm as seguintes características:
1. apropriação – a nomeação da propriedade do texto tem uma relação direta com a possibilidade de este ser passível de punição por suas transgressões. A identificação da autoria possibilita a punição do autor. Ao ser inserido no sistema de propriedade da sociedade burguesa, segundo o filósofo, o autor busca a transgressão como forma de reinserir o ato da escrita num movimento de oposição sagrado/profano; lícito/ilícito; religioso/profano.
2. atribuição – a atribuição de autoria é inconstante. Os textos científicos eram considerados verdadeiros quando vinculados a um autor; atualmente a autoria não é mais fundamental para os validar, pois são veiculados em publicações que os garantem. Os textos literários ao contrário tinham seu valor associado a sua antiguidade sem ligação com um autor e atualmente não podem ser desvinculados do autor para terem valor.
3. autenticidade – o autor é um ser projetado a partir dos traços inscritos no texto, das relações de pertinência ou exclusão que estabelece com outros textos e autores, em função do tempo e dos tipos de textos. Foucault afirma que a identificação do autor feita pela crítica literária se parecia com a exegese de textos cristãos, em que o valor do texto é dado pelo valor do autor – são as particularidades do autor que explicam as características do texto. Para ele, a "função autor" não se obtém apenas pelas inscrições textuais, já que estas não remetem diretamente ao autor, mas a um "alter ego cuja distância em relação ao escritor pode ser maior ou menor e variar ao longo mesmo da obra" (FOUCAULT, 2006, p.279) – a função autor estaria na própria cisão entre o escritor real e o narrador [esta idéia é bastante interessante e eu gostaria de entender melhor]. Ele delimita ainda um tipo de autor diferente dos autores de textos literários, os quais chama de "fundadores da discursividade" (FOUCAULT, 2006, p. 280). Esses autores criaram as possibilidades de formação de outros textos, que vão na mesma direção de seus textos e também que se opõem a eles.
Como conclusão da sua linha de pensamento, o filósofo coloca o fato de a função autor estar ligada aos sistemas sociais que articulam os discursos - ela não se dá homogeneamente em todos os discursos, em todas as épocas e lugares.
Foucault aponta para a análise histórica dos discursos como um caminho para observar o autor como uma das propriedades discursivas, além de seus valores expressivos e formais, para analisá-lo como uma função variável: "os modos de circulação, de valorização, de atribuição, de apropriação dos discursos variam de acordo com cada cultura e se modificam no interior de cada uma; a maneira com que eles se articulam nas relações sociais se decifra de modo, parece-me, mais direto no jogo da função autor [...] do que nos temas ou nos conceitos que operam" (FOUCAULT, 2006, p. 286).

Sobre Michel Foucault:
biografia na Universidade de Stanford
biografia na Wikipédia
Centro Michel Foucault

Um comentário:

Márcia Fortunato disse...

Bel, tudo bem?
Menina, você fez um resumo do texto quase todo. Uma trabalheira, hein? Mas ficou ótimo.
Agora, veja, ao solicitar que vocês comentem trechos e não o texto todo eu o faço com o intuito de concentrar a reflexão sobre certo tópico que considero importante. É também um modo de restringir a abordagem de maneira a dar oportunidade para que vocês se manifestem criticamente sobre o que estão lendo. Ao fazer o resumo, você faz uma tarefa de outra natureza, super importante para a compreensão das idéias do autor, mas acaba não questionando, não comentando criticamente o que leu, percebe? Pense nisso, pois acho que você deve ter posicionamentos interessantes a compartilhar conosco.
Beijos, Márcia.